O esporte evita o aparecimento do câncer?

2 de Outubro de 2015 às 09:18

Atividade Física e Câncer

A atividade física regular é reconhecidamente benéfica na prevenção e tratamento de várias enfermidades, tais como, hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, hipercolesterolemia, depressão e outras. 

Essa prática também vem sendo descrita como benéfica na prevenção de alguns tipos de câncer e também para amenizar efeitos colaterais do tratamento. Vários trabalhos já foram publicados e a medicina baseada em evidências vem respondendo algumas das questões abaixo:

O esporte evita o aparecimento do câncer?

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) em parceria com o Fundo Mundial de Pesquisa contra o Câncer (WCRF) concluiu que evitar a obesidade através de exercícios físicos e alimentação saudável pode prevenir 19% dos casos de câncer (1). Considerando 12 tipos específicos de cânceres mais comuns na população brasileira, como os de esôfago, pulmão, mama, fígado, próstata, colorretal e outros, o estudo ainda aponta que, ao prevenir a obesidade, é possível reduzir a incidência dos mesmos em até 30%. O mecanismo dessa relação está baseado no fato de que células gordurosas em excesso aumentam a produção de fatores que causam a inflamação e, a partir daí, contribuem para o desenvolvimento de células cancerígenas.

Segundo dados do INCA, se nada for feito no combate à obesidade, o Brasil pode ter um aumento de 34,6% nos casos de câncer nos próximos anos. Portanto, uma campanha educativa para conscientização da população brasileira para adoção de hábitos saudáveis e a regulamentação da indústria de alimentos são medidas necessárias e urgentes.

A maioria dos estudos epidemiológicos tem focado o câncer de mama. O maior deles é um americano que monitorou 41.836 mulheres na menopausa, durante 18 anos (Iowa Women´s study). As mulheres que praticaram atividade física regular, como corrida, natação ou esportes com raquetes, duas a três vezes por semana, tiveram chances 14% menores de desenvolverem câncer de mama (2). 

Um estudo europeu, com 413.000 voluntários monitorados de 10 países da Europa, mostrou que o esporte diminui as chances de câncer de cólon em 22%. Esse benefício foi ainda maior, de 35%, para tumores do cólon direito e não houve benefício para o desenvolvimento de câncer no reto (3).

Com relação ao câncer de pulmão, um estudo americano demonstrou que mulheres praticantes de atividade física tiveram chance 23% menor de desenvolver câncer de pulmão, sendo de 28% entre as fumantes e 37% entre as ex-fumantes. A principal ressalva desse estudo é que o tabagismo é o principal fator de risco para o câncer de pulmão e, para evitá-lo, não fumar ainda é a melhor atitude (4). 

Uma revisão de literatura realizada pela Escola de Saúde Pública da Austrália mostrou que a prática de atividade física reduz o risco de câncer de endométrio em torno de 30% (5)

A Sociedade Americana de Câncer (American Cancer Society) incluiu, em suas diretrizes, a prática de exercícios físicos como medida preventiva contra o câncer ao lado de outras recomendações, tais como:

1- Consultar um médico a respeito dos exames de prevenção

2- Realizar exercícios físicos pelo menos 30 minutos cinco ou mais vezes por semana

3- Controlar o peso através de dieta bem balanceada, contendo muitas frutas, vegetais e grãos e limitar o consumo de carnes, principalmente as com alto teor de gorduras.

4- Não fumar

Os efeitos do tratamento com radioterapia e/ou quimioterapia são amenizados pela atividade física? 

Os exercícios físicos promovem um aumento da circulação, da respiração e da depuração de substâncias tóxicas do organismo. Com isso, traz benéficos nos pacientes tratados com quimioterapia. Um estudo escocês analisou 213 mulheres com câncer de mama em tratamento com rádio ou quimioterapia e as dividiu em dois grupos, sendo um para prática supervisionada de exercícios físicos e outro para apenas observação. As mulheres que participaram do programa de exercícios físicos tiveram menos fadiga, depressão, náuseas e vômitos. A percepção de uma melhor qualidade de vida também foi observada nesse grupo (6). Um estudo americano mostrou que os exercícios físicos podem reduzir o tempo de recuperação do tratamento oncológico e ajudar os pacientes a se sentirem melhor através da diminuição dos efeitos colaterais (7)

Os pacientes em tratamento podem praticar esportes?

Cada paciente com câncer deve ser avaliado individualmente e, se o mesmo estiver em condições físicas adequadas, a prática de exercícios não só pode como deve ser estimulada como forma de melhorar a auto-estima e a qualidade de vida. 

Na prática clínica, a fadiga, queixa freqüente entre esses pacientes, é o principal obstáculo para iniciar ou manter uma atividade física. No entanto, é justamente um pouco de exercício físico, respeitando as limitações do paciente, que vai diminuir esse e outros sintomas. 

A caquexia (emagrecimento intenso) é uma síndrome paraneoplásica (doença associada ao câncer) e é considerada como doença inflamatória crônica causada pelo aumento de substâncias pró-inflamação. A gordura do organismo está envolvida e contribui para secreção dessas substâncias. Por outro lado, essa reação inflamatória é contra balanceada por fatores anti-inflamatórios, também secretados pelo tecido adiposo. O exercício físico promove aumento dos níveis desses últimos, agindo assim, contra a caquexia (8).

Uma recente revisão de dados da literatura revelou que a atividade física regular possui efeitos benéficos positivos na saúde física e mental, bem como na melhoria da qualidade de vida dos pacientes com câncer após término do tratamento (9).

Portanto, no contexto do tratamento do câncer, a prática de atividade física regular tem uma importância fundamental para o bem estar do paciente.  

 

Referências:
1- Thompson R. et al. Preventing cancer: the role of food, nutrition and physical activity. J Fam Heath Care 2010; 20 (3):100-2.  

2- Bardia A. et al. Recreational physical activity and risk of postmenopausal breast cancer based on hormone receptor status.  Arch Intern Med 2006; 166 (22):2478-83.

3- Friedenreich C. et al. Physical activity and risk of colon and rectal cancers: the European prospective investigation into cancer and nutrition. Cancer Epidemiol Biomarkers 2006;15 (12):2398-407.

4- Sinner P. et al. The association of physical activity with lung cancer incidence in a cohort of older women: the Iowa Women's Health Study. Cancer Epidemiol Biomarkers 2006;15 (12):2359-63.

5- Cust A.E. et al. Physical activity and endometrial cancer risk: a review of the current evidence, biologic mechanisms and the quality of physical activity assessment methods. Cancer Causes Control 2007; 18 (3):243-58.

6- Mutrie N. et al. Benefits of supervised group exercise programme for women being treated for early stage breast cancer: pragmatic randomised controlled trial. BMJ 2007; 10;334 (7592):517.

7- Conn VS et al. A meta-analysis of exercise interventions among people treated for cancer. Support Care Cancer 2006; 14 (7):699-712.

8- Lira F.S. et al. Regulation of inflammation in the adipose tissue in cancer cachexia: effect of exercise. Cell Biochem Funct 2009; 27: 1-5.

9- Fong DYT et al. Physical activity for cancer survivors: meta-analysis of randomised controlled trials. BMJ 2012; 344:70-4.

 

Autor:

Dr. Robson Ferrigno
CRM – SP: 58149

RQE 170

Médico Rádio Oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein
Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo
Presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia

Fonte:

http://www.cancerinfo.com.br/artigo/atividade-fisica-e-cancer.html

Assuntos:

Esporte Atividade Física Câncer de Mama